Eis o melhor e o pior de mim. O meu termomêtro, o meu quilate.

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domingo, junho 22, 2014


A História da Minha Pele







Quando decidi ser esteticista não foi aleatoriamente. Pesquisar uma profissão para mim foi um grande sufoco, já que gosto de muitas coisas e várias muito distintas. As minhas primeiras opções foram fazer filosofia e teologia. Mas aí imaginei que não era nenhuma Hanna Arendt, e que com certeza o máximo que ia conseguir como filosofa era pedir dinheiro na rua. Teologia então nem se fala. Passou pela minha cabeça várias profissões, mas quando optei pela estética, não foi nenhum pouco pelo lado fútil que muitas pessoas veem. Na verdade a estética é muito mais profunda e valiosa para as pessoas do que podemos imaginar. E eu, já vinha tendo um caso com a estética sem perceber. E pensar no quanto eu já havia pesquisado sobre pele, por causa do meu problema de pele, já foi uma mão na roda para fortalecer minha escolha.

Quando eu era adolescente eu tinha muita acne. Mas não era só muita acne, era muuuita acne! E pra variar meu apelido era chokito. E na minha época não tinha esse negócio de bullying não. Se você ia reclamar pra professora ela falava: Para de fazer bagunça chokito, vai sentar.
Então sofri muito. Toda vez que eu passava no corredor eu tinha que escutar um coral de demônios cantando: “leitecondensadocaramelizadocomflocoscrocantescobertocomodeliciosochocolatenestle.”E isso era um tormento. Por causa desse bullying desenvolvi minha personalidade sarrista. Por que se você não pode com eles, zoem eles de maneira pior pra eles pararem de zoar você.. Mas no fundo, a cara cheia de espinhas não é algo que te faz feliz ao olhar no espelho. Isso mexia muito com minha autoestima.

A partir dos meus descontentamentos, comecei a investigar sobre a acne. Fazia de tudo. Tudo o que não precisava de muito dinheiro por que a grana era sempre curta e a acne não era mais importante que comer. Então, todas as receitas milagrosas que apareciam, que alguma senhorinha me falava, eu fazia.  Tinha feito de tudo. Clara de ovo com maizena, máscara de barro, máscara de aveia, Minâncora, acnase, elixir de inhame, exfoliação com açúcar (não façam isso pelo amor de Deus!) e um dia uma senhora falou pra mim: ‘ Oia, coisa boa memo pra espinha é titica de galinha. ’ Eu fazia qualquer negócio, tamanho o desespero e lá vou eu atrás de uma galinha pra pegar sua titica e passar na cara. Ainda bem que não achei, por que não quero nem pensar na infecção que isso ia provocar na minha já tão destruída cútis. Mas nada poderia ser pior do que estava por vir das minhas experiências desesperadas. Um dia me deram outra receita milagrosa: Fia, merthiolate incolor vai acabar com suas espinhas! Lá vou eu tontamente comprar o negócio. Aí eu peguei um pouquinho com algodão e passei. Aí pensei: - Acho que é melhor por mais. Então, peguei o algodão sossegada e feliz, dei uma boa encharcada e fiz-me uma bela de uma compressa de quatro horas de merthiolate incolor no rosto todo.

Quando eu tirei senti que minha pele não era mais a mesma. Não. Ela era um tecido inchado com vesículas espalhadas por toda sua dimensão. Meus olhos estavam comprimidos perdidos dentro do inchaço da epiderme e derme. Na ânsia de virar Gisele, fiquei foi é com o rosto deformado mesmo. Entrei em desespero. E para completar minha aflição, meu namorado da época ao me ver em tal estado saiu correndo e terminou comigo lá do portão. Adolescente, com a cara lascada e com um namorado filho da puta que nem serviu pra levantar a minha autoestima, esse foi o fim.

Para adolescente tudo é o fim. Mas aí, depois de tudo isso fui ao médico e minha pele nunca mais foi a mesma. Ficou um lixo total e absoluto. Mas que poderia ter sido motivo de depressão me incentivou a fazer inúmeras pesquisas sobre pele. O que me levou a ser uma adoradora do maior órgão do corpo humano e a me tornar uma apaixonada pela minha profissão. Acne é difícil demais de lidar e eu só consegui equilibrar minha pele com 25 anos. Imagine, dos 14 aos 25 sofrendo com essa bandida embarangadora. Hoje com 30, ainda sofro com ela, especialmente perto do período menstrual e quando como três barras básicas e sutis grandes de chocolate sem perceber. Mas, hoje sei lidar com ela e até virei amiga. É... não virei amiga não.


Tem algumas que me acompanham tanto que já até tem nome. Mas a vantagem de ter cuidado desesperadamente é que não tenho cicatrizes. Graças a Deus. O que eu tenho a dizer aos jovens que tem acne é: não desanimem e não deixem a acne ser empecilho para seus relacionamentos e não deixe ninguém atacar sua autoestima. Se te colocarem um apelido, coloque na pessoa um apelido pior. E se um namorado sair correndo quando vir sua pele zoada, é bom que ele vá mesmo por que se ele não te aceita com a pele ruim, não te merece Diva. Cuide bem da sua pele, pois a acne pode deixar danos irreversíveis. E hoje existem tratamentos sensacionais que não tinham na minha época e que ajudam muito. E conviva bem com ela por que a pele da mulher às vezes a acne acaba só com a menopausa e na pele do homem a oleosidade pode cessar só com 80 anos. Aí é tempo demais pra perder com depressão pela acne. 

Nanda Pereira




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