Quando
decidi ser esteticista não foi aleatoriamente. Pesquisar uma profissão para mim
foi um grande sufoco, já que gosto de muitas coisas e várias muito distintas. As
minhas primeiras opções foram fazer filosofia e teologia. Mas aí imaginei que
não era nenhuma Hanna Arendt, e que com certeza o máximo que ia conseguir como
filosofa era pedir dinheiro na rua. Teologia então nem se fala. Passou pela
minha cabeça várias profissões, mas quando optei pela estética, não foi nenhum
pouco pelo lado fútil que muitas pessoas veem. Na verdade a estética é muito
mais profunda e valiosa para as pessoas do que podemos imaginar. E eu, já vinha
tendo um caso com a estética sem perceber. E pensar no quanto eu já havia pesquisado
sobre pele, por causa do meu problema de pele, já foi uma mão na roda para
fortalecer minha escolha.
Quando eu
era adolescente eu tinha muita acne. Mas não era só muita acne, era muuuita
acne! E pra variar meu apelido era chokito. E na minha época não tinha esse
negócio de bullying não. Se você ia reclamar pra professora ela falava: Para de
fazer bagunça chokito, vai sentar.
Então sofri
muito. Toda vez que eu passava no corredor eu tinha que escutar um coral de
demônios cantando: “leitecondensadocaramelizadocomflocoscrocantescobertocomodeliciosochocolatenestle.”E
isso era um tormento. Por causa desse bullying desenvolvi minha personalidade
sarrista. Por que se você não pode com eles, zoem eles de maneira pior pra eles
pararem de zoar você.. Mas no fundo, a cara cheia de espinhas não é algo que te
faz feliz ao olhar no espelho. Isso mexia muito com minha autoestima.
A partir
dos meus descontentamentos, comecei a investigar sobre a acne. Fazia de tudo.
Tudo o que não precisava de muito dinheiro por que a grana era sempre curta e a
acne não era mais importante que comer. Então, todas as receitas milagrosas que
apareciam, que alguma senhorinha me falava, eu fazia. Tinha feito de tudo. Clara de ovo com maizena,
máscara de barro, máscara de aveia, Minâncora, acnase, elixir de inhame,
exfoliação com açúcar (não façam isso pelo amor de Deus!) e um dia uma senhora
falou pra mim: ‘ Oia, coisa boa memo pra espinha é titica de galinha. ’ Eu
fazia qualquer negócio, tamanho o desespero e lá vou eu atrás de uma galinha
pra pegar sua titica e passar na cara. Ainda bem que não achei, por que não
quero nem pensar na infecção que isso ia provocar na minha já tão destruída cútis.
Mas nada poderia ser pior do que estava por vir das minhas experiências
desesperadas. Um dia me deram outra receita milagrosa: Fia, merthiolate incolor
vai acabar com suas espinhas! Lá vou eu tontamente comprar o negócio. Aí eu
peguei um pouquinho com algodão e passei. Aí pensei: - Acho que é melhor por
mais. Então, peguei o algodão sossegada e feliz, dei uma boa encharcada e fiz-me
uma bela de uma compressa de quatro horas de merthiolate incolor no rosto todo.
Quando eu
tirei senti que minha pele não era mais a mesma. Não. Ela era um tecido inchado
com vesículas espalhadas por toda sua dimensão. Meus olhos estavam comprimidos
perdidos dentro do inchaço da epiderme e derme. Na ânsia de virar Gisele, fiquei
foi é com o rosto deformado mesmo. Entrei em desespero. E para completar minha
aflição, meu namorado da época ao me ver em tal estado saiu correndo e terminou
comigo lá do portão. Adolescente, com a cara lascada e com um namorado filho da
puta que nem serviu pra levantar a minha autoestima, esse foi o fim.
Para adolescente
tudo é o fim. Mas aí, depois de tudo isso fui ao médico e minha pele nunca mais
foi a mesma. Ficou um lixo total e absoluto. Mas que poderia ter sido motivo de
depressão me incentivou a fazer inúmeras pesquisas sobre pele. O que me levou a
ser uma adoradora do maior órgão do corpo humano e a me tornar uma apaixonada
pela minha profissão. Acne é difícil demais de lidar e eu só consegui
equilibrar minha pele com 25 anos. Imagine, dos 14 aos 25 sofrendo com essa
bandida embarangadora. Hoje com 30, ainda sofro com ela, especialmente perto do
período menstrual e quando como três barras básicas e sutis grandes de
chocolate sem perceber. Mas, hoje sei lidar com ela e até virei amiga. É... não
virei amiga não.
Tem algumas
que me acompanham tanto que já até tem nome. Mas a vantagem de ter cuidado
desesperadamente é que não tenho cicatrizes. Graças a Deus. O que eu tenho a
dizer aos jovens que tem acne é: não desanimem e não deixem a acne ser
empecilho para seus relacionamentos e não deixe ninguém atacar sua autoestima.
Se te colocarem um apelido, coloque na pessoa um apelido pior. E se um namorado
sair correndo quando vir sua pele zoada, é bom que ele vá mesmo por que se ele
não te aceita com a pele ruim, não te merece Diva. Cuide bem da sua pele, pois
a acne pode deixar danos irreversíveis. E hoje existem tratamentos sensacionais
que não tinham na minha época e que ajudam muito. E conviva bem com ela por que
a pele da mulher às vezes a acne acaba só com a menopausa e na pele do homem a
oleosidade pode cessar só com 80 anos. Aí é tempo demais pra perder com
depressão pela acne.
Nanda Pereira