Ano passado meu amigo Léo me indicou o livro Em busca de sentido do Viktor Frankl. Ele me fez uma propaganda tão boa que imediatamente fui à livraria comprá-lo. Sou muito boa em comprar livros e filmes. Uma pessoa não pode me dizer que gostou de um determinado título que fico totalmente curiosa e já tenho um comichão para comprar. O difícil é ler e assistir tudo o que eu adquiro com meu tempo extremamente reduzido de vida pessoal.
Naquela época, comecei a ler, mas sabe quando não é o momento do livro? Eu começava a ler e ficava perdida em devaneios aleatórios. Parecia que estava lendo um texto em aramaico. Por isso li até a metade, coloquei meu bom e velho marca página e guardei na "pilha de livros que lerei no futuro".
Passaram-se alguns meses e decidi pegá-lo novamente. Mas com a preguiça que me consome a alma, decidi ler a partir da página que eu tinha parado. E dessa vez parecia que era escrito para mim. Tudo o que aquele homem dizia parecia que começava assim: Fernanda, o sentido da vida...
Foi tão profunda a experiência que tive com esse livro, quase um arrebatamento, que assim que terminei, comecei a ler de novo para recuperar o que tinha ficado sem entender no ano passado. Não quero fazer sinopse nem resumo desse livro por que já tem muitos e muito melhores do que qualquer um que eu possa fazer. Quero falar da minha experiência, da minha visão desse livro tão maravilhoso.
Viktor Frankl fala da experiência dele nos campos de concentração da segunda guerra mundial. Ele descreve de forma detalhada e crítica os abusos que os prisioneiros sofriam nesses campos. E como a falta de sentido e o desespero faziam com que muitos sucumbissem por doença ou suicídio. Ele observava que toda vez que a pessoa era tomada por esse desespero e perdia a projeção do futuro, ela morria em poucos dias.
É bonito ver a grandiosidade da lição tirada por esse homem que perdeu tudo, tudo mesmo. Sua esposa, os pais, irmãos, bens, seu manuscrito que era o trabalho de sua vida, tudo foi perdido na guerra. Sobrou-lhe apenas como ele mesmo diz: a existência nua e crua.
Enquanto muitos lutavam para sair com vida, ele refletia que não é apenas
sair com vida, mas ter um sentido para essa vida. Mesmo que a pessoa morra, ela
deve morrer com dignidade, com sentido. Porque a morte também faz parte da vida.
Deliciei-me
com sua história e ao retornar ao começo do livro li uma mensagem que ele
mandou para seus jovens alunos que não sai da minha cabeça: “Não procurem o
sucesso. Quanto mais o procurarem e o transformarem num alvo, mais vocês vão sofrer.
Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer,
e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior
que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. A felicidade
deve acontecer naturalmente, e o mesmo ocorre com o sucesso; vocês precisam
deixá-lo acontecer não se preocupando com ele. Quero que vocês escutem o que
sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível.
E então vocês verão que a longo prazo - estou dizendo: a longo prazo! - o
sucesso vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar
nele."Temos a mania de colocar alvos efêmeros para sermos felizes ou termos sucesso. Se eu terminar a faculdade, serei feliz. Se eu conseguir um emprego na minha área, serei feliz. Se eu comprar um carro, serei feliz. Se eu me casar, serei feliz... E no final nunca se está satisfeito porque se faz do meio, um fim.
As mulheres (e alguns homens também, vai?), são as que mais fazem do meio um fim para serem felizes. O meio mais desejado de felicidade para muitas mulheres (pelo ao menos as que eu conheço) é o relacionamento com um homem. Muitas anseiam desesperadamente por um casamento, porque segundo muitas outras mulheres: ‘O tempo está acabando, o cerco está fechando. Estou com 30 anos e ainda não estou namorando. São dois anos para conseguir alguém, três de namoro, um de noivado. Meu Deus! Quando me casar, já estarei na menopausa e não poderei mais ter filhos! Santo Antônio valei-me porque os homens estão tudo androginando e cada vez que um homem androgina, são dois que saem do mercado e etc.’ Ainda hoje ri gostosamente de uma amiga que está estudando desesperadamente para passar no concurso de escriturária do TJ para poder usar salto e camisa, colocar seus cabelos longos a mostra e ficar rodeada de homens engravatados e diplomados. Pois sua realidade é um trabalho num hospital, rodeado por mulheres de todos os tipos, especialmente megeras, usando uma touca embarangadora que esconde sua cascata de cabelos. E o único contato com homem é quando ele chega desmaiado e acidentado.
Os filmes, as novelas, as revistas mostram relacionamentos perfeitos, homens lindos de morrer e cavalheiros até não querer mais com suas esposas incríveis. Cada filme de romance que é assistido, terminamos cantando a música A Vida Não Presta do Léo Jaime. Porque o que é aquele Gerard Butler em P.S. Eu te amo? Ou o Javier Bardem em Comer Rezar Amar? O que é esse realacionamento da Angelina Jolie com o Brad Pitt? O homem pediu a mulher em casamento horrores de vezes, os filhos tiveram que interceder porque ela não queria aceitar enquanto todos os homessexuais não se casassem também. E aí, pensamos que se o Brad Pitt pedisse a gente em casamento não pestanejaríamos nem por um segundo para que ele não pudesse mudar de ideia. Pensamos ainda que, na verdade quem o pediria em casamento seriamos nós mesmas. Aí depois de ver todas essas pessoas bonitas e felizes, olhamos a nossa volta e percebemos que na festa junina da igreja tem cinco mulheres para cada homem. E que setenta por cento desses homens são aspirantes ao celibato. E pensamos tristemente, que no final vamos ter que acabar nos convertendo ao Islamismo. Porque é melhor dividir um homem com vinte mulheres, do que ficar solteira. Pois assim, garatimos pelo ao menos a procriação e a perpetuação de nossos lindos genes.
A verdade, é que nada garante nada. Nenhuma faculdade garante que você terá sucesso. Nenhuma conquista garante que você se realizará e nenhum relacionamento ou casamento garante que você será feliz. Afinal, no dia do casamento você pode descobrir que ele é gay e tem um caso com o mordomo. Ou que é um cafajeste e tem uma amante. Ou que você não o ama de verdade e que na verdade que ser carmelita descalça. Ou ele pode fugir com sua melhor amiga à cavalo. Ou ele pode até mesmo morrer.
Essa busca incessante por realização em um relacionamento é muitas vezes uma grande fuga, o desejo de compensar a carência afetiva que é gerada dentro da nossa própria casa, com nossa família. Uma outra pessoa nunca poderá nos fazer efetivamente felizes. E é até injusto dar um fardo tão pesado ao outro, pois somos insaciáveis. Nossa busca por felicidade tem que ter um equilíbrio.
A busca desse sentido, de entender quem você é, de respeitar seus valores e suas necessidades sem medo de que o outro vá embora é o que nos faz libertos e felizes. Não buscar a felicidade, que é esse alvo invisível, e sim buscar fazer, como Frankl diz, tudo de melhor que sua consciência mandar. Alimentar nossos valores, nossa fé, a nossa individualidade, para que nos conhecendo e nos amando mais, sejamos mais plenos para amar o outro. Para que nosso amor transcenda.
Se colocamos nosso foco de felicidade no outro, sempre buscaremos um amor idealizado, que parte de nossa idéia de como o outro deve ser para que sejamos felizes. E assim nos frustraremos e viveremos no mais puro sentido Big Brother de ser. O sentido de que o problema está sempre no outro, portanto, se ele não for bom como eu quero, eu o elimino. Isso não nos torna maduros. Quando um relacionamento não dá certo, cada uma das duas pessoas deve levar sua parcela de culpa, para que com isso se possa aprender e não repetir os erros no futuro. Colocar a culpa toda no outro é sempre muito mais fácil, pois se o problema está no outro eu não tenho que sair da zona de conforto para mudar. Mas também não se cresce.
Com grande ousadia, me atrevo a mudar um pouco o texto do Frankl, para trazer mais próximo do que eu estou falando. Ele ficaria mais ou menos assim:“Não procurem o amor. Quanto mais o procurarem e o transformarem num alvo, mais vocês vão sofrer. Porque o amor, como o relacionamento, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. O amor deve acontecer naturalmente, e o mesmo ocorre com o relacionamento; vocês precisam deixá-lo acontecer não se preocupando com ele. Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível. E então vocês verão que a longo prazo - estou dizendo: a longo prazo! - o amor vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nele."
Fernanda Pereira
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